segunda-feira, dezembro 11, 2006

Resumo e análise do primeiro Manifesto Surrealista de André Breton de 1924

Exalta-se a palavra liberdade, não só a palavra mas tudo o que ela contém em si. A liberdade é uma aspiração legítima, a única. A liberdade da imaginação que não perdoa, que só ela dá contas do que pode ser, uma entrega total. A loucura também faz parte de todo este conceito de liberdade, como o próprio Breton diz : “foi preciso Colombo partir com loucos para descobrir a América. E vejam como essa loucura cresceu, e durou”.
O processo da atitude realista não é incompatível com uma certa elevação do pensamento, mas aquela atitude realista baseada no positivismo é hostil a toda a liberdade de criação intelectual e moral.
O autor acreditava que ainda se vivia no império da lógica em que o racionalismo absoluto era moda não permitindo mais do que relações estreitas à nossa experiência... um mundo despido de superstição e de quimera. Mas essa quimera, esse sonho existe estranhamente por isso também há todo o interesse em captá-las e submete-las ao controlo da nossa razão.
Esse sonho foi alvo da crítica de Freud, mas antes dele inadmissivelmente nuca o sonho tinha recebido a atenção devida e merecida. O sonho é contínuo e possui traços de organização. Há uma necessidade de nos vermos no sonho para nos entregarmos aos sonhadores. Devemos conceder ao sonho o que recusamos por vezes à realidade. Envelhecemos, talvez, porque somos indiferentes dedicados ao sonho; o espírito do sonhador é de satisfação com tudo o que lhe acontece. Devemos acreditar no sonho e na realidade, tão contraditórios aparentemente, como uma espécie de realidade dogmática, de surrealidade.
Breton tinha a sensação que a velocidade do pensamento não era superior à da palavra e que ele não desafiava forçosamente a língua nem a caneta que corria ( automatismo psíquico). Pelo contrário o resultado é muita emoção, uma escolha de imagens que nunca teria sido capaz de preparar, um pitoresco muito especial, um absurdo imediato relativo ao legítimo do mundo.
Em homenagem a Guillaume Apollinaire, foi inventada a palavra surrealismo para designar o modo de expressão pura para beneficiar os amigos. O surrealismo é definido como “ estado puro, mediante o qual se propunha transmitir verbalmente, por escrito, ou por qualquer outro meio o funcionamento do pensamento; ditado do pensamento, suspenso qualquer controlo exercido pela razão, alheio a qualquer preocupação estética ou moral”. O surrealismo repousa sobre a crença na realidade superior da omnipotência do sonho, no desempenho desinteressado do pensamento.
Mas quais os segredos da arte mágica do surrealismo? Utensílios para escrever, lugar mais favorável ao espírito, estado passivo e receptivo de talentos, pensar na literatura como um caminho triste que leva a tudo, escrever muito depressa sem assunto preconcebido ( tão depressa para não reprimir nem ter a tentação de se ler o que se acabou de escrever), confiar na fonte inesgotável do murmúrio.
A linguagem foi dada ao homem para este fazer dela um uso surrealista. Muitas vezes podemos utilizar palavras de que já nos esquecemos o sentido, e quando olhamos para elas estão exactamente no sentido pretendido.
O surrealismo não permite a todos os que a ele se entregaram , que o abandonem, tem o efeito de estupefacientes, um estado de necessidade e de vício que pode levar o homem a revoltas horrorosas. Como o haxixe, o surrealismo serve para satisfazer todos os delicados, não sendo apanágio só de alguns. As imagens do surrealismo são como as imagens do Ópio porque não as conseguimos mandar embora, há uma ausência de faculdades e de vontade.
A atmosfera surrealista presta-se essencialmente à produção das mais belas imagens na mais bela das noites, “ a noite dos fulgores” ( “sobre a ponte o orvalho com cara de gata sem embalava”).
O espírito que mergulha no surrealismo revive exaltado a melhor parte da nossa infância, a etapa que mais se aproxima da vida verdadeira.
O surrealismo declara bastante o nosso não conformismo absoluto. É o raio invisível que um dia nos fará vencer os nossos adversários.

“VIVER E DEIXAR DE VIVER SÃO SOLUÇÕES IMAGINÁRIAS. A EXISTÊNCIA ESTÁ NOUTRO LUGAR”


Depois de uma leitura atenta e interessada surge a tentação de me entranhar pelo mundo do surrealismo, faze-lo continuar em vez de o matar como movimento dos anos 20. O automatismo psíquico e toda a quimera que faz de nós homens crianças, capazes de sonhar mundos melhores e viver neles com a intensidade de quem se eleva, não permite que sepultemos o que não pode ser sepultado... será racional? Então me manifesto nos anos 20, como em paisagens vividas outrora no momento em que me acho agora!

Sem comentários: