quarta-feira, dezembro 27, 2006

A louca


Estou presa de tal maneira que só consigo abanar a cabeça de forma violenta... mas sou tão suave, de uma delicadeza que não suponho sequer. Gostava de ver o que se passa la fora, ver por detrás desta janela inexistente, quase como cavernas de Platão sobre sombras... a imaginação se descobre...
Mas não consigo senão abanar rapidamente a minha cabeça me entregando à loucura, esperando imagens horríveis de fantasmas que me levam a pontos de não retorno... Tirem-me estas algemas que não existem, arranhem-me com as unhas que magoam e me massacram, que não existem também senão nesta loucura que me invade a cada segundo... Levem-me para sempre este choro que não cessa...
Que suavidade... que Paz...
Estou sozinha na minha loucura e não quero ninguém... a não ser sempre estas imagens estranhas que me fazem abanar a cabeça como loucura que essa sim existe e não foge, algemas que se soltam e me fazem viver acelarada neste quadrado que me acolhe... ah... como é bom ser louca, como é bom não ver os podres do mundo grande, daquele que mata a céu aberto...



(photo by: David LaChapelle)

terça-feira, dezembro 26, 2006

Quem Sou?





Em busca do meu EU... que infinidade de trabalho!

( photo by : Joni Marques )

Acorda do Sufoco

Encontrei de novo todos de quem andava afastado. é interessante ver como as pessoas gostam de mim e o desinteresse que lhe dou. Afinal de interessante nada tem, a não ser o facto de me sentir uma besta. Gostava de por momentos não ser nada do que sou hoje, ou então só uma pequena parte, ou mesmo até só aquela parte de mim que arrasta montanhas, de tal maneira que me faz esconder atrás de máscaras, sempre a descer escadas que não acabam. E o melhor disso tudo é saber que quando olho à minha volta todos me abraçam com saudades. E eu continuo a fazer as coisas erradas. Encontro-me a chorar, caem lágrimas de uma saudade inesgotável que termina por momentos a cada afastamento. Tão estranho sentir falta quando realmente estou com as pessoas certas. Depois esqueço-me mais uma temporada. Chego à conclusão que não sei viver, e que se vivo é porque deveria corrigir tudo o que de mal faço. Estou numa situção de agonía que eu mesmo não consigo imaginar. Tenho tanto medo de ficar sozinho... Quero acordar rápido deste pesadelo, ter a força para voltar a ser quem sempre fui ao lado de quem realmente sempre está! é sufocante viver atrás de fantasias de carnaval. Imagino o meu fim sem ter começado. Acorda antes que olhes para o lado e não tenhas mais ninguém a não ser eu mesmo sem ser descoberto por mim próprio!

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Obrigado Pai Natal

Saí de casa hoje de tarde e no caminho enquanto guiava não consegui conter as lágrimas. Senti uma memória penetrar-me tão forte. Há bem pouco tempo recebi o meu Pai em casa depois de 2 longos meses de internamento num hospital. Nesse dia foi Natal... e o Natal a mim chegou mais cedo, porque hoje recebi o meu Pai à mesa. Estavamos muitos no jantar, mas eu senti-me especial, apropriando um augusto e infinito orgulho por estar ao lado dele. Ou melhor, o presente não foi só esse, foi mais que isso: foi o facto de estarmos os quatro juntos, numa dimensão de Amor que deveria ser exemplo para todos. Os meus Pais que amo, o meu Irmão que amo e Eu que por eles sou amado!
Obrigado Pai Natal por este Natal antecipado... Obrigado por haver natal a cada segundo que amo a minha família...

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Deixar correr

Qando a caneta corre sem objectivo confirmado tão somente pela beleza e tentativa de acolher algum tema que não existe no pensamento premeditado das coisas...
que delícia saborear todo este mel de procurar sem procurar algo que apareça pela leveza do espírito, sabendo muitas vezes que pouco ou nada se sabe sobre toda a imaginação que nos envolve neste raciocínio acelarado mais rápito que a própria sombra, que não a tendo existe de certeza... pois escrevemos e sentimos o mais sem sentido muitas vezes ou quase sempre com ele todo cá dentro...
Perdi-me entretanto ... já não sei o que dizer, mas contínuo a escrever na tentativa de algo aparecer e nascer como que brotando de flor virgem... uma mágoa sem pecado a pureza que não cessa abruptamente no absurdo de quem se encontra se perdendo...
A vida em nós tão escondida como que encontrada sem a razão que é própria de quem quer resultados, mas esquecendo-se muitas vezes que o resultado pode não ser agarrado ou entao que existe mesmo que não perceptível...
Deixar correr em boa hora sem pressa de acabar...
Tudo nasce e se desenvolve numa maratona sem fim... por isso me acabo por aqui... por isso me começo sem cessar no fim que se proclama!

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Quase o sonho...

Sonhei outro dia que toda a gente me olhava por onde passava...
Fumava cachimbo e vestia uma boina preta e toda a gente tinha cabelo verde.
O interessante foi ver dias depois alguem assim vestido e eu não ter cabelo verde...
Perfeita desilusão!

terça-feira, dezembro 12, 2006

Espiral

Inicia-se um novo voo, numa noite iluminada, luz som de estrada em escadas que se acolhem em gritos tão altos como o meu próprio que não é meu, mas teu, sendo que eu sou tudo aquilo que és nesse grito cessante que não pára.

Rebento-te uma lãmpada incandescente num pedido de socorro, num abraço afastado onde o teu corpo volta a ser o abrigo imaginado para o vício das minhas unhas. Arranho-te! Arranho-te todo e toda nesse objectivo parolo, indecente mas sequioso, fruto de palpitações não racionais esventradas nas máscaras nossas dos caminhos que não começam nem acabam...

Onde não há limites nem possibilidades aparentes para recomeçar um novo ciclo de olhares agressivos e ácidos que me drogam numa alucinação arrepiante e vertiginosa como a sensaçaõ do teu sangue. Sabor enroscado no prazer do meu. Ai pára...





(cadáver esquisito de Red Beno e Ruy de Villa Real)

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Resumo e análise do primeiro Manifesto Surrealista de André Breton de 1924

Exalta-se a palavra liberdade, não só a palavra mas tudo o que ela contém em si. A liberdade é uma aspiração legítima, a única. A liberdade da imaginação que não perdoa, que só ela dá contas do que pode ser, uma entrega total. A loucura também faz parte de todo este conceito de liberdade, como o próprio Breton diz : “foi preciso Colombo partir com loucos para descobrir a América. E vejam como essa loucura cresceu, e durou”.
O processo da atitude realista não é incompatível com uma certa elevação do pensamento, mas aquela atitude realista baseada no positivismo é hostil a toda a liberdade de criação intelectual e moral.
O autor acreditava que ainda se vivia no império da lógica em que o racionalismo absoluto era moda não permitindo mais do que relações estreitas à nossa experiência... um mundo despido de superstição e de quimera. Mas essa quimera, esse sonho existe estranhamente por isso também há todo o interesse em captá-las e submete-las ao controlo da nossa razão.
Esse sonho foi alvo da crítica de Freud, mas antes dele inadmissivelmente nuca o sonho tinha recebido a atenção devida e merecida. O sonho é contínuo e possui traços de organização. Há uma necessidade de nos vermos no sonho para nos entregarmos aos sonhadores. Devemos conceder ao sonho o que recusamos por vezes à realidade. Envelhecemos, talvez, porque somos indiferentes dedicados ao sonho; o espírito do sonhador é de satisfação com tudo o que lhe acontece. Devemos acreditar no sonho e na realidade, tão contraditórios aparentemente, como uma espécie de realidade dogmática, de surrealidade.
Breton tinha a sensação que a velocidade do pensamento não era superior à da palavra e que ele não desafiava forçosamente a língua nem a caneta que corria ( automatismo psíquico). Pelo contrário o resultado é muita emoção, uma escolha de imagens que nunca teria sido capaz de preparar, um pitoresco muito especial, um absurdo imediato relativo ao legítimo do mundo.
Em homenagem a Guillaume Apollinaire, foi inventada a palavra surrealismo para designar o modo de expressão pura para beneficiar os amigos. O surrealismo é definido como “ estado puro, mediante o qual se propunha transmitir verbalmente, por escrito, ou por qualquer outro meio o funcionamento do pensamento; ditado do pensamento, suspenso qualquer controlo exercido pela razão, alheio a qualquer preocupação estética ou moral”. O surrealismo repousa sobre a crença na realidade superior da omnipotência do sonho, no desempenho desinteressado do pensamento.
Mas quais os segredos da arte mágica do surrealismo? Utensílios para escrever, lugar mais favorável ao espírito, estado passivo e receptivo de talentos, pensar na literatura como um caminho triste que leva a tudo, escrever muito depressa sem assunto preconcebido ( tão depressa para não reprimir nem ter a tentação de se ler o que se acabou de escrever), confiar na fonte inesgotável do murmúrio.
A linguagem foi dada ao homem para este fazer dela um uso surrealista. Muitas vezes podemos utilizar palavras de que já nos esquecemos o sentido, e quando olhamos para elas estão exactamente no sentido pretendido.
O surrealismo não permite a todos os que a ele se entregaram , que o abandonem, tem o efeito de estupefacientes, um estado de necessidade e de vício que pode levar o homem a revoltas horrorosas. Como o haxixe, o surrealismo serve para satisfazer todos os delicados, não sendo apanágio só de alguns. As imagens do surrealismo são como as imagens do Ópio porque não as conseguimos mandar embora, há uma ausência de faculdades e de vontade.
A atmosfera surrealista presta-se essencialmente à produção das mais belas imagens na mais bela das noites, “ a noite dos fulgores” ( “sobre a ponte o orvalho com cara de gata sem embalava”).
O espírito que mergulha no surrealismo revive exaltado a melhor parte da nossa infância, a etapa que mais se aproxima da vida verdadeira.
O surrealismo declara bastante o nosso não conformismo absoluto. É o raio invisível que um dia nos fará vencer os nossos adversários.

“VIVER E DEIXAR DE VIVER SÃO SOLUÇÕES IMAGINÁRIAS. A EXISTÊNCIA ESTÁ NOUTRO LUGAR”


Depois de uma leitura atenta e interessada surge a tentação de me entranhar pelo mundo do surrealismo, faze-lo continuar em vez de o matar como movimento dos anos 20. O automatismo psíquico e toda a quimera que faz de nós homens crianças, capazes de sonhar mundos melhores e viver neles com a intensidade de quem se eleva, não permite que sepultemos o que não pode ser sepultado... será racional? Então me manifesto nos anos 20, como em paisagens vividas outrora no momento em que me acho agora!

terça-feira, dezembro 05, 2006

Almofada

Tento suportar a solidão de uma almofada, tento fechar os olhos com força... a imagem aparece como que um pedido de ajuda...
Aqueles olhos velhinhos a sorrir!
Que insuportável imagem de dor, que masoquismo este
chamado recordação...
A memória serve para fazer chorar de alegria e de tristeza... por vermos apenas no sonho e no fechar de 0lhos todos aqueles que já estiveram ao nosso lado em abraços que pareciam eternos...
em vez da almofada a que me agarro sozinho!