sexta-feira, janeiro 19, 2007

Quero-te na Chuva que Dança


Dançar entre a chuva que cai em nós nesses suaves gestos de sedução. Quero-te tu que me seduziste, me apaixonaste, me prendeste como um vício, uma droga que nos transporta para lugares elevados, por entre imagens de sonho na mais pura realidade...
Quero sentir os teus braços a envolver-me, a tua boca a ofegar, o teu suor feito lágrimas de alegria fundir-se em mim!
Quero ver todos os dias os teus olhos azuis e verdes em tons de céu, o teu cabelo loiro em sabores de sol, quero-te em vinte e cinco horas do dia e da noite, no nascer do sol ver-te adormecer em volta de mim... depois de noites em que o luar brilhou mais alto em cores de paixao que não termina! Adormece meu amor na chuva da dança que me seduz!

segunda-feira, janeiro 15, 2007

O Trono dos Pés


Gostava de poder dizer algo que não escapasse aos sentidos, quem sabe no mais real dos acontecimentos...
Gostava de poder dizer que tenho sentido, poder intelectualizar alguma coisa que não fosse a vida escrita nos pés.
Gostava de poder atirar balas sem matar corpos... apenas almas subversivas da humanidade...
A vida é o chão, pisamos tudo o que fazemos, pensamos e sentimos... como que presos por alguma arma que mata sem piedade toda a beleza do ético que passa a estético só e desacompanhado...
A história da humanidade foi pisada desde o dia em que nasceu, desde o dia em que, expulsos dum paraíso celeste, fomos deixados ao abandono por este mundo fora... sempre de armas nas mãos e nos pés...
Ensinaram-nos a denegrir o diferente e a pintar as igualdades como sistemas a seguir...
As armas deveriam estar apontadas a nós e à nossa cabeça... mas seriamos expulsos deste inferno dos vivos... porque quem reina em reinos do comum senso... são os pés a pisar e as armas a diferenciar... a estupidez num trono!


( photo by : Jenny Holzer )

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Que Fogo é Este?


Que fogo é este que me aquece, que saudades são estas que me queimam, que chama é esta que se acende a cada sopro teu nos meus ouvidos?
Que voz é esta que canta dentro de mim clamando amores bem altos ao coração que me entorpece o raciocínio? Que dança é esta que me acompanha a vida em passos calmos e acelarados numa correria constante pelo universo dos sentidos?
Os meus olhos chamam por ti, a minha boca espera encontrar-te, os meus ouvidos esperam tocar-te, o meu olfacto espera saborear-te...
Que magia é esta que move montanhas paradas? Que nos faz andar estando parados? que nos tira do sério quando não estamos seguros? Que loucura é esta que nos prende a respiração, nos tira o fôlego e a auto-estima? Que bebedeira é esta que nos faz sentir elevados em relação aos seres desprezíveis intelectualizantes? Que droga é esta que nos faz delirar e querer mais e mais? Que surrealidade é esta que nos faz ter imagens não palpáveis na natureza? Que maratona é esta que faz o sangue correr e ferver?
Isto é o amor?
Então Queima-me a tempo inteiro... que daqui não quero sair! Daqui não vou sair... É aqui que vou adormecer em canções lindas de embalar!


( photo by : David LaChapelle )

terça-feira, janeiro 09, 2007

Volta Atrás


Vejo ao longe todo o passado que passou depressa. Se voltasse atrás faria de maneira diferente. Nessa altura não estaria centrada no meio deste negro que me vendou a vida e as pulsações da Alma.
Passo a mão pelas rugas que me envolvem o corpo, passo com carícia fechando os olhos tentando imaginar aquele homem que perdi por uma carreira que me trouxe a solidão por companheira. E sinto que a pele se arranha...
Tento ver-te ao longe, dormir em sonhos coloridos contigo, tento imaginar uma volta ao passado...
Mas dói tanto quando acordamos... Ver que não aproveitamos a vida como ela devia ser... um sopro de alma a cada segundo que se respira fundo...
Agora olho e vejo uma alma depedaçada que se revolta por ter vivido séculos de teatro. Poderei ser eu? quando? agora? Então vem até mim e deixa ser quem sempre fui não sendo, a imagem que não fui e sempre sonhei... deixa que eu não permaneça remorso na hora da minha morte... Que me torne a personagem que nunca fui : Eu mesma!


( photo by: Robert Mapplethorpe )

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Sobre a Mesa


Sobre a mesa estendo o meu corpo. Pronto a servir com um preço barato de uma refeição a tempo inteiro de toda uma população esfomeada. Com sede de mim...
Sobre a mesa sento o meu corpo preparado para mais um dia de estímulo selvagem que se arranha nestas máscaras que não páram de realizar carnavais diários.
Sobre a mesa preparo o meu corpo para mais um turbilhão de bocas insaciadas.
Sobre a mesa danço o tango que me fere em chagas todo o meu destino. Sinto-me carne, alimento de todos... Estranho desejo de ser consumido como matéria a saborear...
Sinto que tudo se envolve para me tratar como apenas mais alguma coisa sobre a mesa...
Sobre a mesa deixo de ser quem sou... tudo porque fui comido pelo mundo que me viu nascer... essa mesa redonda a quem chamam Terra.



( Photo by : Robert Mapplethorpe )

O Triúnfo do Inferno

Lágrimas que se derramam ao pegar em ti ao colo. Aquele a quem dei vida foi primeiro que eu juntar-se aos que já cá não estão. Meu amor, como dói ficar sem ti, como magoa em vez do abraço, ter que carregar o teu corpo sem vida ao colo, levar-te até à cova que te vai comer até à inexistência de não seres. Ficares gravado na memória com esse teu olhar relaxado de quem dorme um sono eterno. Gostava que um pássaro me trouxesse os céus em alegria pelo teu retorno. Que sonho...
Um desenho se transforma mesmo nos meus olhos baixos, quando peço a Deus que tudo isto seja mentira... Como queria que tudo fosse mentira...
Traz de volta o rebento em flor que foi arrancado pela estupidez que rege a humanidade!
São lágrimas que me inundam a alma e me afogam num sufoco que não pára, em algo que não tem fim, que o tempo não cura. Para sempre ficará a fotografia animada de quando brincavas, e a fotografia morta do cortejo fúnebre do teu fim... o Triúnfo do Inferno!

sexta-feira, janeiro 05, 2007

O Mundo é um Ovo Cúbico


Mundo é um ovo cúbico. Uma caixa furada por um turbilhão de massacres. Pandora quando foi aberta provocou a morte, neste mundo não é preciso abrir nada... O buraco é natural, o massacre é a cores, em directo, quase como uma transformação visual, quais olhos feitos objectivas. O mundo abriu as pernas e foi fodido pelos filhos. Um Édipo Rei bem mais sórdido que o anterior!
Pouso um pano vermelho ou encarnado de sangue.
Deveria ser branco para apregoar arrependimento e rendição.
Mas é Vermelho.
Encarnado de Sangue porque o Buraco nao fecha, a ferida não sara. E o sangue do homem violado por si próprio, a humanidade nao humanizada, a merda feita cérebro eloquente... tudo isso... derramará sempre em cascatas bem altas em chãos sem fundo... no infinito do existente!
Mas um dia acabará... e nesse dia o verbo estará morto!

( sculpture by: harald klingelholler )

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Discurso ao Céu


Farei um discurso do alto da montanha. Falarei ao ar e ao vazío de infinito desconhecimento. Como é ruidoso este mundo ao mesmo tempo que tão calado. Vivemos todos num planeta onde os discursos são retóricas interiores, não por vocação, mas por falta de público! Vivemos sózinhos? A solidão é tão relativa... Mas sim... Vivemos sós neste mundo cheio de gente. Onde estão todos? Onde estão os peixes de Santo António?
Olhem para baixo...
Lá estão eles mortos e andam, mortos e respiram, vivos mas cegos!
Mas como disse, continuarei o discurso, entregando a voz ao céu infinito que me escuta e me devolve a resposta e o entusiasmo em correntes de vento e pluviosidade!

( Draw by: Thierry De Cordier )

Que Manicómio?!


Se todo o mundo fosse um manicómio cómico louco mas tão natural onde todos corressem por entre campos de maravilha com o sorriso estampado em parvoíce. Como era bom ter tantos anormais no mundo, como era agradável sair à rua a correr em passeio calmo para semear algo de ridículo e absurdo neste mundo tão banal...
Que circo seria ver tantos palhaços vestidos de estupidez... veríamos mais além ao som de uma música maluca de kusturica. Pára Quedas que não param nem amparam as quedas... tudo cai em frenesim de força pelos que não entendem aquilo que está passos bem mais a frente e a quem chamam loucos.
A esses vem o internamento, como doentes... mas não o são.
Doentes são os que fazem a guerra brincando com a vida como se fosse uma guerra naval, um monopólio de cascatas corrosivas onde se compram as pessoas como se compram fábricas em ruínas e em putrefacção.
Afinal quem será o louco, o pecador...?
Que manicómio em que vivo... Preferia que soltassem os loucos verdadeiros, aqueles que vemos a correr por uma planície que não acaba, brincando e sorrindo pela Paz... ah como era bom, como seria agradável viver no meio deles na correria calma e bonita da loucura!

( Photo by: Zbigniew Libera )

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Ver sem os olhos


como cheirar o mundo de cores diferentes nas mesmas perspectivas? como será tocar uma flor num certo lugar e cheirar o vento num futuro diferente... serei como que teletransportado em castelos cor de rosa sobre as nuvens de algodão, para sítios já saboreados e cheirados com a mesma sensação... E tão bom sentir a magia de voar no tempo através do olfacto e do paladar... se fecharmos os olhos, nos cegarmos por momentos vemos porque sentimos, ao contrário do que acontece todos os dias na rotina que não enfraquece : nada sentimos por olharmos apenas com os olhos... cheirem as flores nas diferentes perspectivas iguais e saberão um grande segredo dos sentidos: a magia de serem 5 e um só!

( paint by: Andy Warhol )

A Gaiola do Mundo


Mais uma noite arranhado e preso a mim mesmo com uma vontade incansável de me soltar desta prisão... Queria tanto provar um pouco do teu sangue, absorver-te como faço quando aspiro a cocaína numa sensação de devaneio brutal pela vida boémia na mais pura violação das fossas nasais. Gostava se calhar de te poder apenas olhar e ter vontade de apenas te morder um pouco. Entregar-me num beijo a ti...
Ah como o mundo é tão cruel.
Sinto que tenho de mostrar quem não sou, mostrar que não mordo, mostrar que sou um ser sociável, alguém de quem todos temos de gostar... e no entanto estou cativo da minha liberdade. Eu nasci para ser livre, homem de todos e da humanidade, uma entrega em constante ascensão, um elevador ao céu e ao inferno...
A sociedade fechou-me na gaiola para ser domesticado tal como um pássaro sem espaço para voar.
gosto de tentações e de provocações.
Que me esfreguem a sensualidade em profundos gestos de força e sensibilidade...
um carinho de um beijo apenas para mostar o que há de canibal em mim...
Quem sabe gostarei de comer as carnes da Alma, aquelas entranhas que se sentem como apertos de coração.
Mas não fisicamente...
Gosto de me despentear e descontrolar, sentir a respiração acelarada no gesto de te dominar, de te sufocar num beijo tão profundo como o amor que existe em mim, mas que está preso nesta caixa de pandora... como se fosse uma cona e seus pecados, num cheiro intenso a sexo em dias e noites que não terminam...
Libertem-me do mundo, o olhar de raiva de não ser perfura o dever ser... para quê morrer se poderei viver, mas viverei apenas segundo aqueles que caso vivesse claramente, seriamente me matariam...
Que fazer?
liberdade liberdade liberdade...
só existe na morte após o sorriso do último suspiro.


(photo by: David LaChapelle)